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Queda de Omal al-Bashir – do júbilo à elevação da fúria popular

Por Idnórcio Muchanga

O “povo” sudanês acorreu às ruas, na passada quinta-feira, para celebrar o anúncio, pelos militares, de que o “reinado” do Presidente Omar al-Bashir havia chegado ao fim e que este estava detido. No entanto, o que aparentava ser uma vitória resultante de meses de protestos populares para que o presidente renunciasse o poder, rapidamente “esfumou-se pelo ar” logo que os militares fizeram o anúncio formal. Ao invés de um governo civil, tal como o “povo” queria, o exército anunciou a criação de uma Junta Militar, chefiada pelo general Awad Ibn Auf, que funcionará como um governo de transição por um período de dois anos. De igual modo, o general declarou um estado de emergência de três meses e a suspensão da constituição do país. Logo que Ibn Auf se dirigiu à nação, o júbilo popular desvaneceu e cedeu à (re) elevação da fúria popular, desta vez dirigida contra os militares “golpistas”. A fúria popular pode encontrar explicação na história do país que, desde a independência em 1956, tem sido caracterizado por momentos de instabilidade, de golpes de Estado e de tendente continuação de os militares agarrarem-se ao poder.

Há trinta anos que o Sudão é governado pelo agora deposto presidente al-Bashir que, ele também, ascendeu por via de um “golpe” militar. A desconfiança popular em relação às reais intenções dos militares ao “golpearem” al-Bashir e instaurar uma junta militar tem razão de ser. Um olhar ao passado histórico do país leva a uma rápida percepção do porquê da fúria popular contra os militares. Desde a independência, o país tem estado a ser governado, de forma intermitente, entre governos civis e governos militares. Entretanto, a contagem dos anos de permanência destes dois tipos de governo leva à conclusão de que os militares superam, de longe, os civis. Ainda que alguns dos governos que ascenderam por via de golpe militar mais tarde tenham “transitado” para governos civis, por meio de realização de eleições, os dados mostram que os governantes que ascenderam por via militar permaneceram mais no poder.

A primeira vez que os militares forçaram a sua ascensão ao poder foi em 1958, dois anos após a independência do país, quando o general Ibrahim Abboud subiu ao poder após um golpe de estado contra o governo civil ora instaurado. Nesse ano, os militares haviam criado um Conselho Supremo das Forças Armadas, constituído por 12 oficiais seniores, para governar o país. Em 1964, o governo de Aboud chegava ao fim em face de uma crescente oposição de vários grupos, especialmente do sul do Sudão, cuja oposição ao governo militar desembocou numa guerra civil em 1964.

A segunda aventura dos militares no poder ocorreu em 1969, quando o coronel Gaafar Muhammad al-Nimeiry liderou um grupo de oficiais militares que tomou o poder e criou um governo sob um conselho revolucionário. Durante a sua chefia do Estado, al-Nimeiry escapou a algumas tentativas de golpe de Estado. Entretanto, o fim da sua governação veio a ocorrer em circunstâncias em que ele próprio não podia esperar: o golpe de estado que o derrubou, em 1985, foi orquestrado pelo seu chefe de gabinete, o general Abd al-Raḥmān Siwar al-Dahab, num momento em que o chefe de Estado se encontrava fora do país, em visita aos EUA.

Por Edson Muirazeque *

edson.muirazeque@gmail.com

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