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Não tínhamos a dimensão do Idai

Por Idnórcio Muchanga

– José Tomas residente da Beira e motorista de Txopela

Quatrocentas e quarenta e seis pessoas morreram, mais de 1500 ficaram feridas, cerca de 59 mil casas destruídas e aproximadamente 500 mil hectares de na sequência da passagem do ciclone Idai pelas províncias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia. Entre as vitimas, o consenso é de que o problema não esteve numa eventual falta de aviso e, sim, do desconhecimento da dimensão do ciclone.

As imagens de satélite mostram uma área de 125 por 25 quilómetros afectada pelas cheias que se seguiram ao ciclone, o que levou o Programa Mundial de Alimentos a lançar uma mega-operação de assistência humanitária de emergência destinada a alcançar pelo menos 115 mil pessoas.

Para evitar a ocorrência de situações de malnutrição aguda entre os afectados e que se encontravam cercados pelas águas, foram lançados pacotes de biscoitos altamente energéticos e alimentos fortificados. 

José Tomas conduz o seu txopela pela cidade da Beira e, como muitos, assistiu a passagem do Idai e repete que recebeu os alertas emitidos pelas entidades competentes do Estado e pelos meios de comunicação social com uma semana de antecedência.

Repisa que “o problema do Idai não foi a falta de aviso. Todos soubemos a tempo que vinha ai um ciclone e que poderia ser grave mas, não imaginamos que fosse algo capaz de matar e destruir infra-estruturas como acabamos assistindo”.

Entre as mensagens emitidas e que assegura que chegaram a todos destaca a necessidade de as famílias se manterem juntas, dentro de cada, com as portas e janelas fechadas, quadro e electrodomésticos desligados, reservas de água, alimentos, lanternas e pilhas, entre outros.

Como muitos residentes da Beira, Dondo e Búzi como quem conversamos, José Tomas afirma que o problema é que não conhecíamos a dimensão do ciclone e penso que mesmo o Governo não imaginava algo parecido.

Descreve que na manha daquela quinta-feira (14 de Marco) o vento soprou com alguma forca ao longo do dia “e todos ficamos a pensar que era tudo. Não pudemos imaginar que no final do dia teríamos tanta destruição. A partir das 20 horas o vento intensificou e nada mais podíamos fazer”.

Conta ainda que a certa altura da madrugada, enquanto o ciclone ia no adro, apercebeu-se da movimentação de vizinhos que procuravam refugio nas salas de aulas da escola vizinha expondo-se a um risco maior de serem atingidos por objectos de todos os tamanhos que eram projectados pela ventania.

Com as marcas da tragedia ainda patentes um pouco por todo o lado, José Tomas diz que há algumas lições que a sociedade deve tirar deste evento, nomeadamente, a forma como as habitações são erguidas. “O que destruiu as casas foram árvores velhas que caíram em grande número

Também aponta que a maior parte da população não esta em condições de construir casas resilientes a um evento da magnitude do Idai porque não ganha o suficiente para isso. Diz ainda que mesmo as obras feitas pelos empresários locais devem ser repensadas.

Outro problema e a qualidade das obras. O que ganhamos não nos permite ter casas resilientes porque levamos mais de 10 anos a construir e passam 10 mestres, 5 carpinteiros, são colagens que fazemos. Os empresários até tem recursos mas sem qualidade porque contratam empresas e pagam mal aos construtores, os empreiteiros não sabem prever eventos deste tipo, o terreno onde se constrói, há casas que saíram os tectos e as paredes desabaram. Como e que isso acontece? Porque não se respeita a qualidade dos materiais que devem ser usados.

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