A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, defendeu a necessidade dos Estados optarem pelo multilateralismo em oposição ao unilateralismo que tem caracterizado a governação norte-americana de Donald Trump. Discursando em Munique, perante uma audiência em que estavam presentes Mike Pence e Ivanka Trump, respectivamente vice-presidente e filha de Donald Trump, a governante alemã não só pediu aos líderes mundiais para que juntem esforços para enfrentar os desafios globais, como também fez saber que o seu país vai continuar a se relacionar com a Rússia. À semelhança dos húngaros que “desautorizaram” as investidas do “Ocidente” contra a Rússia e China, Merkel distancia-se da intenção de Washington isolar a Rússia.
A reacção de Merkel pode ser analisada em duas vertentes relacionadas: a da aversão às tentativas de Washington impor as suas vontades sobre os seus parceiros, por um lado, e a percepção de que cortar as relações com a Rússia não favorece a economia alemã.
As palavras de Merkel foram proferidas à margem da conferência internacional sobre a segurança que decorreu recentemente no seu país. O aparente distanciamento entre Berlim e Washington surge devido às críticas que o inquilino da Casa Branca direccionou ao projecto de construção de um gasoduto que vai ligar a Rússia à Alemanha. Para Donald Trump, se o projecto avançar Berlim vai ficar refém de Moscovo, dada a sua dependência em relação ao gás russo. Entretanto, Merkel tem uma visão diferente daquela exposta pelo líder de Washington.
No que diz respeito à defesa do unilateralismo, a discórdia de Berlim com Washington está no facto de esta última estar a optar pelo unilateralismo, que tem sido caracterizado pela tentativa de impor as suas vontades aos seus aliados. Desde a ascensão de Trump, tais “imposições” têm “apanhado de surpresa” os parceiros europeus que, em resposta, têm tentado as contrapor. Portanto, a defesa do multilateralismo, por parte de Merkel, enquadra-se na resposta europeia em minimizar eventuais efeitos nefastos à estabilidade do sistema internacional pelas acções trumpianas. Aliás, a defesa do multilateralismo surge do entendimento de que esta é a melhor estratégia para a defesa do interesse internacional da estabilidade, mas sobretudo do interesse nacional de cada Estado europeu em continuar a estabelecer relações comerciais com diferentes parceiros ao mesmo tempo que os esforços conjuntos podem ajudar a mitigar desafios como a migração ou o clima. É nesta dimensão que se justifica o não abandono, por parte dos europeus, do acordo nuclear com o Irão, já que este Estado é um dos maiores produtores de petróleo.