Diz um adágio popular que “quando dois elefantes lutam, o capim é que sofre”, mas que será feito do “capim africano” diante da luta dos “elefantes” EUA e China? A luta entre estes dois elefantes reflecte a “realidade” das relações internacionais, em que a ascensão de uma potência cria sempre ciúmes na potência dominante, de tal modo que esta última usa os meios ao seu alcance para travar a ascendente. Enquanto isso, a ascendente também usa os meios ao seu alcance para mitigar às investidas da ainda dominante de modo a amealhar aquele estatuto. No entanto, tal luta parece estar a caminhar para as velhas práticas da “guerra fria”, onde o resto do mundo era “obrigado” a escolher ou o campo americano ou o campo soviético. O que será feito, então, de África se a luta dos “elefantes” for transferida para o continente?
Num artigo republicado em 2009, Thomas M. Callaghy[1] afirmava que depois de séculos de marginalização e dependência em actores e forças externas, o virar do século mostrava indicadores animadores para o reposicionamento de África na economia política global. Tais indicadores, segundo o autor, resumiam-se em quatro: “(i) a saúde básica da economia mundial em meados e finais da década de 2000, especialmente os altos preços das commodities; (ii) a ascensão da China como uma importante potência económica e política; (iii) o surgimento de organizações não-governamentais (ONGs) como atores-chave na governação económica internacional, o que levou a uma grande redução da dívida e aumento da ajuda; e (iv) o novo contexto internacional pós-11 de Setembro, que aumentou a importância geoestratégica da África”.
[1]Callaghy, Thomas M. (2009). “Africa and the World Political Economy: Still Caught Between a Rock and a Hard Place?” In Harbeson, John W. e Donald Rothchild. (eds.). Africa in World Politics: Reforming Political Order. 4th Edition. Westview Press. Boulder, CO. (39-71).