Como africano, gostava que a administração Obama dedicasse mais tempo na sua agenda de cooperação com a África. Contudo, a perspectiva é pouco convergente com “timing”
da agenda das prioridades de uma América em tempos de crise económica.
Barack Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos, provando de facto que a América aceita a mudança e assume o desejo de mudar. Não foi uma efusiva e entusiasta manifestação de regozijo como sucedera há quatros anos atrás. Afinal os tempos são difíceis de crise económica. A América tem de reduzir o défice, a dívida externa, o peso da presença militar no mundo, assim como passar a depender menos do petróleo estrangeiro.
Existe por outro lado a questão da competição movida da competitividade da economia chinesa com as suas empresas já actuar no mercado americano, agravado pelo facto de o governo chinês ser credor de quase metade dos títulos da dívida do tesouro americano.
O capitalismo chinês parece mais adequado ao século XXI, enquanto assiste-se a um declínio ou falta de competição de empresas europeias e mesmo americanas.
Apesar de não ter sido uma vitória a preto e branco, os afro-americanos e as minorias em geral não deixaram de extasiar a sua alegria, mas uma coisa ficou evidente: 62 por cento de homens brancos votou em Romney e só 35 por cento votou em Obama. Mais um vez os afro-americanos que ainda se encontram no baixo escalão social e económico dos Estados Unidos, votaram em massa no presidente cerca de 93 por cento, na esperança de ter esperança em dias melhores.
Será que para eles o melhor Barack Hussein Obama está para se mostrar neste segundo mandato?
Obama obteve 71 por cento de votos dos latinos, enquanto entre os asiáticos 78.
Racismo e intolerância? A percepção existente entre as minorias, é de que se um dia o racismo acabasse no mundo, ele continuaria bem vivo e enraizado nos Estados Unidos da América, com maior incidência nos estados do Sul.
Finalmente, sobre esta matéria há que reconhecer que Barack Obama deve a sua reeleição aos afro-americanos, aos latinos, aos jovens de menos de 30 anos, 60 por cento, e às mulheres, 55 por cento.
Para além do desafio de ter de recuperar a economia e outros de monta com que os Estados Unidos se debatem, julgo que neste segundo mandato Barack Obama, como o primeiro presidente negro da América, deveria ter na agenda doméstica, melhorar a imagem das relações raciais no país; deve reforçar a sua marca de tolerância de inclusão racial económica e religiosa, como um vínculo na qual a sociedade e a juventude em particular se espelham e orientam na vida.
Foram as eleições mais caras e que mais dinheiro se gastou, mais de $2 biliões dólares norte-americanos. Os denominados Superpacs encarregaram-se de angariar os fundos para as duas campanhas, com doações milionárias batendo todos recordes anteriores. Os republicanos deverão estar neste momento a perguntar, como foi possível perder as eleições com tanto dinheiro injectado pelos seus bilionários para correr com um (presidente diferente) da Casa Branca.
Parafraseando um político europeu, que há dias disse: “caso Mitt Romney fosse eleito presidente, seria um desastre para a América e para o mundo”.
Efectivamente, teríamos um falcão como presidente dos Estados Unidos e outro em Israel. Seria o reinício do intervencionismo unilateral, uma política arrogante de agressão que seria posta em acção a iniciar por uma invasão ao Irão. Seria o retorno do lunatismo antiterrorista com governos a ter de alinhar coercivamente. A Europa a lidar com a crise que a torna vulnerável economicamente iria entrar em pânico, dividida entre uma China alinhada com os países que formam os Brics, e uma América agarrada aos dogmas neoconservadores, que com a questão dos excessos do Wall Street ao subprime foi o causador da actual doença que enferma os europeus.
A vitória de Obama consolida a ideia de que a actual geografia política americana tem se mostrado menos receptiva a ideias radicais preconizados dos republicanos conservadores. Aqueles que se consideravam republicanos moderados foram afastados, de seguida os conservadores foram perdendo o voto dos moderados e de praticamente todas as minorias…..assim será dificílimo voltarem ao poder.
A questão que agora se coloca é esta: será que mesmo com Obama continuaremos a assistir à monitorização de governos conotados com a esquerda e centro esquerda, especialmente os que dispõem de recursos naturais sob a alçada de (regime change) mudança de regime? Será que os ditos aliados continuarão a aplaudir a políticas belicistas e organizações respeitáveis como as Nações Unidas a manter a passividade habitual perante o reacender de actos que violem o direito internacional?
Com Obama, assistimos em África, ao derrube e assassinato de Muamar Kadafi, pela NATO, golpe de estado no Mali e Guiné Bissau, outra tentativa na Costa de Marfim. Na América Latina, assistimos, nas Honduras, o derrube do presidente Manuel Zelaya.
No Médio Oriente, tivemos escaramuças entre Israel e o Hezbolah e agora assistimos a um cenário de guerra movido por regimes árabes ditos moderados e abençoado pelo Ocidente contra o regime sírio de Hafez Al-Assad. Quanto à solução da questão palestiniana, como sempre fica por enquanto sem solução por vontade de Israel.
Eu como africano gostava que Barack Obama dessa mais atenção à África, mas essa perspectiva não parece convergir com o roteiro de prioridades de uma administração americana em tempos de crise económica. O continente africano terá de aguardar por melhores tempos, enquanto reforça e busca outras parcerias
É também verdade que Obama prometeu e cumpriu a retirada do Iraque e iniciou uma reforma no sistema de saúde, contudo não fechou a prisão de Guantanamo e outras prisões secretas, onde pelo que se sabe, as torturas continuam. E para a desgraça de muitos cubanos e de políticos progressistas e moderados o bloqueio a Cuba continua injusto, cruel e desumano.