Costumo dormir no céu, muito acima das nuvens, por isso tenho o estranho hábito de contar as estrelas antes de pregar o olho. Mas naquela noite não as contei. Elas é que contabilizaram os meus sentimentos em queda livre, no seu silêncio distante e na sua luminosidade intensa.
O álcool, meu companheiro discreto, de longa data, afastou-me dos problemas crónicos do dia-a-dia: a renda de casa por pagar, a dívida com a empregada e o xitique.
Não me lembro de ter sonhado algo especial. Acordei sobressaltada como quem desabrocha de um pesadelo. No princípio nem sequer sabia onde estava. Contudo, enxergando as paredes do meu quarto, tive o súbito consolo de pelo menos ter dormido em casa.
Por Bento Venâncio