O Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) já nos habituou a este tipo d hesitações. Começou por publicitar, o mais que conseguiu, largamente, a sua
proposta de aumentos dos preços dos transportes públicos urbanos.
Municipais e privados. Proposta que viria a ser, como se podia prever, aprovada em sessão da Assembleia Municipal. Depois, estabeleceu para si próprio uma espécie de moratória. Aparentemente para ganhar tempo. Para ver e avaliar reacções. Depois, por fim, parece ter decido arquivar a sua proposta na gaveta do esquecimento. Ora, uma área tão sensível como o é a dos transportes públicos, não pode ser gerida desta forma. O que já aqui escrevemos mais de uma vez. Afinal, pode perguntar-se, para que serviram tantas reuniões e essa chamada auscultação popular. Ao que parece para nada. De resto, todos o sabemos, de nada vale ir perguntar às pessoas se aceitam aumentos de preços.
A resposta, muito naturalmente por medo, pode ser sim. A reacção na prática será não. De resto parece menos correcto que tenha sido o próprio CMCM a vir dizer, publicamente, que os ex – TPM, empresa sob sua tutela, tem mais de uma centena de autocarros parados. Por não ser rentável a sua circulação. Porque quantos mais circularem maior ser o prejuízo. O que nem é novidade. Como não é novidade a teimosia em tentar provar que um serviço social pode ser lucrativo. Rentável. Sustentável. Não pode. Como o não pode um hospital público ou um centro de saúde. Nem uma escola pública. Logo, parece ser necessário enfrentar o problema numa perspectiva diferente. Numa perspectiva realista e corajosa. Abandonar o maniqueísmo. E o oportunismo político de que os residentes na cidade de Maputo e da Matola estão a ser vítimas. Não indefesas nem passivas. Mas vítimas. Sendo que o tempo é bom conselheiro, saibam parar pensar. E, pensar melhor.
Perante a crise, perante a falta de transportes públicos, criada artificialmente, os “chapas” de caixa aberta ganham terreno. E circulam como e por onde querem. Transportando pessoas em piores condições de segurança do que é transportado gado. Bois, cabritos e por aí em diante. Impunemente. Nada nem ninguém os impede de circular como circulam. Tomaram de assalto e ocuparam o espaço deixado ocupar pelos gestores municipais. Esperemos que não por muito tempo, menos ainda definitivamente.
Sem receio de desmentido, estamos perante a maior e mais grave crise de transportes desde a independência nacional. O problema, como já foi explicado, não está na falta de meios circulantes. De viaturas. Nem de dinheiro. Se as viaturas foram compradas é porque o havia. No mínimo houve crédito para as comprar. Não faz sentido, não colhe o argumento de que estão paradas devido a défice de exploração. Por darem prejuízo. O que sobressai de tudo isto, são conflitos de interesses. Guerrilhas pessoais. Negócios de cueca. Esperemos que percebam que a corda parte sempre pelo lado mais fraco. E o lado mais fraco, no presente caso, é a gestão municipal. A qual vale o que vale e parece estar a valer muito pouco. E que sequer percebeu o que todos perceberam e sabem. Que quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.