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O cão que invadiu a palhota do curandeiro

Por admin

Ao raiar do sol de um dos sábados de Dezembro ouviam-se vozes, até certo ponto, exaltadas. Dois vizinhos amigos estavam em tremenda discussão e ninguém conseguia asserenar-lhes os ânimos. O mote da peleja é que o cão de um deles havia invadido o quintal do outro, onde além de revolver levou consigo alguns bens, tidos como de grande valor pelo lesado.

O ofendido é curandeiro de elevada reputação. E, como qualquer pessoa que se dedica a esta actividade, ele também tem uma palhota-laboratório de atendimento aos pacientes. No mesmo lugar deposita todos os utensílios, incluindo pedras, ossos, curativos e vestuário típico.

Porque a palhota não tem porta convencional (a privacidade é assegurada por um tecido branco estendido na entrada), uma matilha invadiu-a, remexeu tudo e retirou parte dos ossos, para o desespero do curandeiro que acabava de perder o principal instrumento de diagnóstico médico-espiritual.

O cão do vizinho foi facilmente identificado por conta da coleira que está ligada a uma corrente metálica que deixa marcas por onde passa. E o trilho, minuciosamente seguido, terminava numa casa próxima.

Ora, o curandeiro, com os nervos à flor da pele, exige que o vizinho, por sinal dono do cão, responda pelos danos causados no “laboratório”, mas este, por sua vez, recusa-se, argumentando que não há razão para ser responsabilizado pelos prejuízos provocados pelo animal. Chega a dizer que nunca ordenou ao canino a vandalizar coisa alheia.

António Mondlhane

 

amondlane@hotmail.com

 

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