O homem, por si só, é capaz de muitas maldades. Deve ser por isso que, o próprio homem, inventou o cárcere. É lá onde, por quase tudo o que viola a normal convivência, deposita os prevaricadores. Não é simpático mas é uma solução que, dependendo das circunstâncias e do envolvido, pode resultar numa reabilitação do desencaminhado. Bom, pelo menos esse é o princípio. Refira-se também que cadeia – solução extremada – não é lugar para crianças… se bem que mesmo os adultos deviam andar na linha para não terem que ver o sol aos quadradinhos.
Dirão alguns queBula- bula está com manias de filósofo. Pode ser… mas a vida está a “dar com o pau” em toda a gente que o melhor refúgio é mesmo a filosofia; mas retomando a marcha, convêm explicar que não há intenção nenhuma de filosofar mas sim de partilhar uma história digna de um romance policial.
Foi assim… dois mal-encarados decidiram, há dias, invadir uma casa algures na Matola-Rio. Conseguiram inclusive entrar na referida residência e já estavam a juntar o produto “colectado” quando o dono da casa – por acaso um polícia – surpreendeu-lhes e toca a distribuir socos e pontapés para tudo quando era lado. Entre gritos, sangue e suor, logrou dominar os dois malfeitores.
Surpresa um: um dos ladrões era um menor… criança mesmo.
Dominados os dois bandidos, o dono da casa levou-os à esquadra mais próxima, lá para os lados da Mozal. Deixou-os lá a verem o sol aos quadradinhos literalmente. Voltou para casa mais tranquilo. Os malditos teriam o que bem mereciam nas mãos da justiça.
Ora sucede que os dias foram passando e a dado momento o “assaltado” foi chamado para um destes julgamentos – sumários.
Surpresa dois: só o miudinho é que foi apresentado ao juiz.
Onde estaria o mais velho ladrão? Não houve maneira de saber. O julgamento correu célere e o petiz saiu em liberdade. O juiz não tinha como condenar o menor à cadeia.
Desolado, o cidadão voltou para casa com as “mãos abanadas”. Ainda esboçou um gesto de revolta deslocando à esquadra onde, ele mesmo, deixara os dois meliantes. Ficou com vontade de matar alguém. O tal bandido havia saído em liberdade no mesmo dia em que fora capturado. Como, questionou. Ninguém foi capaz de dar uma resposta consoladora. A verdade é que o bandoleiro havia sumido. Mais grave, não havia nem registo da sua passagem pela esquadra. Incrível. O processo só fazia alusão ao menor que, como se sabe, se não for corrigido agora, depois poderá ser tarde. Muitas crianças já desenvolvem desde cedo uma sede insaciável de matar e cometer crimes hediondos! Muitos nem aparentam ser, outros já demonstram frieza e crueldade com animais por exemplo!
Já dizia Haim Ginott que “crianças são como cimento fresco. Tudo que cai nelas deixa uma marca.”
Bula bulaespera que o menino possa ser “endireitado” pela sociedade. Quanto ao “bandido mais velho”, esse merecia um castigo a altura da sua infâmia. Usar uma criança para roubar é uma coisa assustadora. O miúdo corre o risco de crescer acreditando que roubar é coisa normal…
Mas mais do que isso, ainda há espaço para questionar o papel de alguns agentes da lei e ordem. Como podem libertar um jagunço assim de ânimo leve? O episódio traz à memória o caso de um professor de medicina que, por um punhado de moedas, deixou passar um aluno inepto. Alguns anos depois, a mulher do referido professor foi parar aos serviços de urgência. Era preciso fazer-se uma cirurgia de emergência. A verdade é que a tal operação não foi feita e a senhora perdeu a vida. Como é norma, o médico – chefe saiu para dar a triste notícia aos familiares da vítima. O professor quase teve uma parada cardíaca quando reconheceu o seu ex-aluno; o tal que ele havia deixado passar sem conhecimentos.
Os nossos actos presentes podem determinar o nosso futuro. Os agentes que libertaram o criminoso esqueceram-se que eles também podem ser futuras vítimas do ladrão.