Meu país é único. Tem singularidades de dar água na boca. Aqui há fenómenos que a ciência tão cedo não irá descodificar. Há coisas que só a metafísica pode “tentar explicar”… e digo tentar porque mama mia, não vale a pena… ainda se morre de coração!
Bom este pequeno intróito vem na sequência da abertura de um novo nicho de negócio – Bula- bula também fala e bem português caro – nas penitenciárias do nosso vasto e belo país… afinal não está na moda estimular o empreendedorismo e a criação de parcerias?
E nesta onda de empreendedorismo, um grupo ou se calhar nem tanto, decidiu abrir um negócio de venda de liberdades. Isso mesmo. Liberdade. Agora esse bem, valiosíssimo, pode ser comprado por bagatela e meia. Bula- bula está a pensar em investir no negócio. Parece que está a dar frutos e dos bons.
O ponto é que recentemente, o Tribunal Judicial da Província de Nampula detectou 20 casos de venda de solturas nos tribunais. A coisa é simples até… um gajo tem direito a liberdade e no lugar de sair e ir cultivar batatas, prefere continuar a ver o sol aos quadradinhos (há com cada preguiçosos). O tipo simplesmente transacciona o documento que lhe permite sair da cadeia a favor de outro prisioneiro com planos cá fora. Simples mesmo.
Diz se que a situação deriva da falta de documentos de identificação de alguns arguidos, na altura da detenção, e de o sistema penitenciário não possuir um cadastro informatizado. Quer dizer, o sistema não funciona e a malandragem toma conta do pedaço. Bem que dizia o bom do Hunguana que a “sociedade que não toma conta dos seus bandidos, acaba ficando a mercê destes”…
E veja-se que a coisa só foi descoberta na sequência de uma campanha nacional de julgamentos, com vista a acabar com situações em que a prisão preventiva já ultrapassava os prazos. Agora está em curso uma investigação, visando apurar o grau de envolvimento dos funcionários judiciais na venda de libertações, nas cadeias da província.
Não é preciso ser um expert em coisa nenhuma para saber que há gente da justiça metida no negócio. E que está a facturar muita mola. Bula-bula está a pensar em iniciar uma investigação paralela para saber quem são esses funcionários e depois estabelecer uma parceria público-privada para avançarmos para outras freguesias. Maputo pode ser um bom local para promover a compra e venda de documentos de soltura de malandros.
Com esse negócio ficamos a ganhar todos; o tipo que ganha a liberdade paga. O que vende a nota de soltura ganha. O funcionário que facilita as notas ganha. O fisco fica também com uma parte que essa coisa de impostos é para ser levada a sério. Há pessoas que preferem ficar nas cadeias. Estão tão habituadas que a possibilidade de ficarem livres assusta-as. Vai ser só o exercício de localiza-los e propor-lhes o negócio. Não há riscos nenhuns até porque as Comissões de Inquérito (?) nunca descobrem nada.
Bula-bula acredita que, nesta era da velocidade, tudo está a fluir. O homem tem esta capacidade inata de reinventar-se. Então toca a engendrar. Inventamos os Dumba-Nengue e os My Love. Era só uma questão de tempo até chegarmos às cadeias.
Somos mesmo um país de excentricidades. Fernando Pessoa dizia que a liberdade é a possibilidade do isolamento. Acrescentava que se o homem não conseguisse viver sozinho, é porque era um escravo mas se ele pudesse visitar o nosso país, por estas alturas, certamente que seria obrigado a reformular o seu pensamento; talvez dissesse qualquer coisa como “a liberdade é a possibilidade de viver numa cadeia e aqueles que nunca viveram isolados da sociedade, então esses seriam realmente os escravos”.
Caso para dizer que há quem prefira as masmorras ao ar fresco da baia! Por que será?