– Filipe Jacinto Nyusi, nas cerimónias centrais do Dia da Mulher
O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi exorta a sociedade a combater veementes os actos que concorrem para a violência doméstica nas famílias. Segundo defendeu, trata-se de um crime que deve ser combatido por todos os cidadãos, instituições públicas e privadas, organizações sindicais, sociedade civil, entre outros actores que devem unir esforços para a emancipação e dignificação da mulher.
Filipe Nyusí que falava na Praça dos Heróis Moçambicanos por ocasião das celebrações do 7 de Abril, Dia da Mulher moçambicana afirmou que não obstante os sucessos que se registam no combate a violência doméstica, nos últimos tempos registam-se de forma intensa, actos trágicos que mancham a sociedade.
“O nosso apelo é no sentido de olharmos para a violência doméstica como um problema que assenta na estrutura de valores que sustentam o modelo social que vivemos. A violência doméstica é um crime que deve ser combatido por todos nós”,disse o Presidente da República.
Acrescentou que todas as instituições públicas e privadas, organizações sindicais, da sociedade civil, associações académicas entre outras devem unir esforços nesta luta que visa a continuação da dignificação da Mulher Moçambicana.
Segundo afirmou, o lema: Justiça e Trabalho Digno: homens e Mulheres Unidos no Combate à Violência, escolhido para as celebrações, convida-nos a uma reflexão sobre o papel de cada um de nós, homens e mulheres, nesta nobre missão pela emancipação da Mulher Moçambicana.
No seu entender, a justiça e o trabalho digno foram sendo construídos por homens e mulheres ao longo da epopeia libertária, pois, a Mulher Moçambicana era duplamente oprimida.
“A conquista da Independência Nacional, representou o início de uma nova etapa de luta da mulher pela justiça e dignidade do seu trabalho. Novas formas de engajamento da mulher ganharam expressão, integramos a perspectiva do género nas políticas do desenvolvimento do país, capacitamos mulheres e homens em matérias de equidade e igualdade do género. Intensificamos medidas que reforçam a igualdade do género e combatem os casamentos prematuros. Aprimoramos igualmente, acções que visam ao seu empoderamento”,disse manifestando a determinação e entrega do Governo pelo bem-estar da mulher e da sociedade em geral.
As nossas filhas são “artistas”
-Mónica Sive, da ACLLN
Mónica Jorge Sive, da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) disse que as mulheres de hoje tem um grande desafio que é continuar com os ensinamentos daquelas quinze que no ano de 1967, partiram para a luta através da sua integração no Destacamento Feminino.
Segundo afirmou a luta de hoje passa pela entrega árdua da mulher em várias frentes de produção, sobretudo na agricultura e comércio onde tem larga experiência acumulada que vem desde os tempos da luta de libertação.
Para ela, a violência que se regista nos últimos dias deve-se ao facto de alguns casos quer os homens assim como as mulheres não acatarem os conselhos dos mais velhos para a estabilidade das suas famílias.
“A violência acontece porque os nossos filhos e as próprias filhas não gostam de ouvir as nossas recomendações no que diz respeito à maneira de ser e estar nos lares. Eles digladiam-se por tudo e por nada, mesmo em situações que não podiam levar ao descalabro. A única coisa que posso dizer é que as nossas filhas são artistas, não sabem acatar os nossos conselhos”,disse Há confusão na emancipação…
– Esperança Mangaze, empresária
Esperança Mangaze, empresária, considera a violência doméstica como sendo a preocupação da sociedade, razão pela qual apela ao combate ferrenho no sentido de acabar com este mal que vem desintegrando algumas famílias.
“A violência doméstica é a preocupação do dia. Na verdade, há que cerrar um combate ferrenho para acabar com as situações que estamos a vivenciar na nossa sociedade e esse trabalho passa necessariamente por uma assunção por parte de nós mulheres nas nossas famílias, da educação dos nossos filhos, homens, no sentido de não enveredarmos pela violência para a resolução dos nossos conflitos familiares e encontrarmos formas condignas de ultrapassar as diferenças entre nós. Este é um grande desafio que se nos coloca”,disse.
Instada a pronunciar-se sobre o porquê do surgimento de alguns casos incomuns de violência protagonizados pelas mulheres, a nossa fonte afirmou que ao longo de séculos, a violência sempre existiu de homem para a mulher, entretanto, nos últimos tempos há casos insólitos que não dignificam as mulheres.
“Pessoalmente sinto que há uma pequena confusão no que diz respeito a emancipação da mulher, ou seja, quando nos sentimos emancipadas julgamos que podemos retaliar, fazer o mesmo que o homem vem fazendo ao longo dos séculos e isso está errado. Temos que encontrar formas inteligentes de fazer perceber que se o nosso companheiro nos violenta, tem que mudar de atitude e não enveredar pelo mesmo caminho”,observou Esperança Mangaze para quem há que desenvolver um trabalho árduo em todas as frentes, “mas sobretudo a partir da família, que á célula base da mulher e que tem a responsabilidade da educação de uma nação”.
Algumas mulheres são
competentes que os homens
– Joaquim Madeira, magistrado
O juiz conselheiro do Tribunal Supremo, Joaquim Madeira afirmou que conquistada a Independência nacional e no estado do desenvolvimento que o país regista, a mulher passou a desempenhar um papel importante em diversas áreas, havendo casos em que supera o homem.
“A mulher é mãe e quando fala toca as sensibilidades, pelo que ela não pode ser violenta. Ela é que tem tomado a dianteira na área de produção e nos últimos tempos tem se destacado na governação, onde em alguns momentos parece estar a mostrar-se mais competente em relação aos homens”,disse.
Sobre os casos de violência protagonizados por algumas mulheres, Joaquim Madeira disse que não constituem a forma de estar das mulheres, mas casos isolados que mancham a sociedade.
“A violência não é praticada pela mulher no geral. Na sociedade quando há homicidas não se pode generalizar e dizer que toda a sociedade é homicida. O grosso das mulheres tem bom comportamento, entretanto, há uma ínfima parte que tem assumido acções anómalas que acabam manchando a mulher”,afirmou destacando que as mulheres não costumam ser violentas. “Portanto, trata-se de situações anómalas que não constituem a regra, mas sim, uma excepção”.
A mulher tem que saber ser e estar
– Patrício José, governante
Patrício José, vice-ministro da Defesa Nacional considera ser um dos desafios da mulher a sua formação contínua de modo a saber estar e inserir-se na sociedade e nos casos de relevo onde for chamada para assumir o cargo de direcção.
“Os desafios são vários, mas o principal é que a mulher precisa de se formar para assumir desafios cada vez mais complexos da vida, isto é, saber ser e estar na família que também está a ter cada vez mais desafios de estabilidade e desenvolvimento, pelo que ela tem saber ser e estar de modo a continuar a jogar o seu papel de mulher para conseguir ganhar a respeitabilidade que ela merece, mas também desfrutar do ambiente que a família tem que lhe proporcionar”,disse.
Sobre a violência doméstica afirmou que nos últimos dias a sociedade fica alarmada porque as situações as mulheres são mais agressivas, entretanto, tal situação pode ser resultado de saturação.
“Estamos alarmados porque é a primeira vez que estamos a tomar situação agressivas e bastantes alarmantes, mas se formos ao histórico desse actos podemos perceber que em alguns casos é a explosão de um problema que a mulher vem tolerando há vários anos e quando chega a um momento que já não consegue se conter ela explode e todos ficamos boquiabertos. Portanto, é a reacção de uma história de violência que já tinha uma história, o que torna a violência da mulher uma fatalidade como temos estado a testemunhar nos últimos dias”,explicou.
Partilhar as ideias para evitar violência
– Felicidade Elsa, académica
A docente universitária na Universidade Pedagógica, Felicidade Elsa, diz que os desafios da mulher são inúmeros, mas o principal passa pela sua formação. No entanto, a nossa fonte reconhece que nos últimos tempos, há mais mulheres a se destacar na liderança de algumas instituições.
“Um dos principais desafios que temos pela frente é dignificar cada vez mais os espaços que há na esfera de governação, isto é, ultrapassar as barreiras psicológicas que muitas vezes constituem entrave para a nossa progressão”,disse Felicidade Elsa.
Para ela, algumas mulheres ainda tem a mentalidade de ser submissas aos seus esposos não se deixando ficar livres e trabalhar arduamente para a superação das metas do trabalho que lhe são confiadas.
Relativamente à questão da violência doméstica, a nossa entrevistada afirmou que a solução passa por um diálogo mútuo e profícuo entre parceiros o que passa necessariamente por reconhecer as fraquezas e os erros do outro.
“Alguns homens têm pautado pela ditadura, quando na verdade tem que privilegiar o diálogo, quer dizer, eles tem que reconhecer que as suas parceiras têm algo a dizer no caso de surgimento de algum problema e para tal é necessário haver partilhas de ideias para não desembocar em situações de violência”,disse Felicidade.
Texto de Domingos Nhaúle