A Cidade das Acácias tem peculiaridades que depois, a modos de copy and past (copiar e colar), multiplicam-se pelo país. Foi assim. É assim. É mais ou menos do tipo “se dá em Maputo, também dá aqui (o aqui refere-se a província, vila, aldeia ou esquina)!
Mas essa multiplicação não resulta apenas da acção individual dos cidadãos. As autoridades, quase sempre, actuam como as avestruzes que, diante do perigo eminente, escondem a cabeça na terra imaginando que assim se tornam inumes à fatalidade. Engano redondo. Fingir que o mal não existe, não o apaga.
Vem a filosofia de ocasião por causa dos Carros – Restaurantes que, de mansinho, tomaram conta de todas as esquinas, ruas, ruelas e becos, vendendo acepipes que fazem lembrar a bonacheirona tia Cacilda (todos temos uma tia Cacilda) que faz altos bolinhos e está sempre de avental cheio de gordura.
Bula-bula, a semelhança de milhares de compatriotas, também já provou do tempero desses restaurantes móveis que a mola não dá para grandes voos. E verdade verdadeira é que há muita gente que se safa comendo nos tais carros. Enfim, o negócio estava mesmo de vento em popa quando, assim do nada, veio uma ordem de proibição, alegadamente porque “não existe postura municipal sobre o negócio”.
Bem Lei é Lei mas só hoje descobriram que não há postura sobre o assunto? Viram os carros surgirem como cogumelos, ocuparem as esquinas todas, fazerem “concorrência” aos restaurantes formais, alimentarem milhares de trabalhadores, estudantes e filhos dos próprios empreendedores. Calaram-se. Calaram-se do mesmo jeito que viram os vendedores ocuparem a Av. Guerra Popular e a Av. Zedequias Manganhela. Calaram-se do mesmo jeito quando o Estrela Vermelha nasceu ou as Barracas do Museu. Calaram-se quando viram os vendedores abandonarem as bancas dos mercados e ocuparem os passeios e, nalguns casos, as próprias estradas. Também agem assim quando alguns cidadãos começam a construir em zonas proibidas para depois demolirem as casas já prontas.
Bula- bulaacha que algo vai mal por estas bandas. Vai tão mal que no Benfica, por exemplo, os vendedores que são corridos de dia, no fim da tarde voltam a ocupar os mesmos espaços perante o olhar da própria polícia municipal que está ali todo o dia. Incrível.
Poderão alguns entender que Bula- bula quer que se mantenha a desordem… engano redondo. Bula- bula também quer as coisas organizadas. O ponto é que deixa-se sempre o pepino crescer torto e só quando já está grande é que se lhe quer endireitar. Impossível. E assim é, de tal sorte que, apesar da proibição, na última sexta-feira, lá estavam os Carros – Restaurante a laborar e, os habituais clientes, entre sorrisos e lamúrias, iam degustando as iguarias.
Há quem diga à boca pequena que a própria polícia municipal que hoje vem dizer que não se pode vender comida nos carros por falta de Postura Municipal, há dias cobrava uma taxa pelo mesmo negócio. Sério isso?
Muslin Ed-Din pregava que usar de misericórdia com os maus é prejudicar os bons; perdoar os opressores é fazer mal aos oprimidos. E agora? Em que é que ficamos? Podemos continuar a comer nos carros – com todos os perigos para a saúde dai resultantes – ou não? Ou pelo número de pessoas envolvidas no negócio há já alguém a ver onde ir buscar mais alguns cobres? Será isso?
A verdade é que não se pode continuar a pautar por uma forma dúbia de actuação porque, como já se viu, as vezes a emenda soa pior do que o soneto…