As restrições no fornecimento de água que, entretanto, obrigam à criação de fontes alternativas para o seu depósito podem ser uma das causas que contribuíram para a eclosão da cólera na cidade de Maputo. As condições de transporte, sobretudo pelos camiões-cisterna, foram também avançadas como hipótese para a ocorrência da doença.
Esta questão foi levantada semana finda, na cidade de Maputo, num encontro entre diferentes instituições públicas ligadas à Saúde, saneamento e protecção ambiental, promovido pelo Ministério da Saúde (MISAU), com o objectivo de reflectir sobre a eclosão da cólera na cidade de Maputo e noutros pontos do país.
Na ocasião foram questionadas as condições de higiene e limpeza dos camiões-cisterna que praticam o negócio de venda e/ou distribuição de água e as condições de conservação pelas famílias, numa altura em que as autoridades da saúde registam com alguma preocupação a ocorrência da doença.
Com efeito, o vice-ministro da Saúde, Mouzinho Saíde, explicou que o encontro tinha o propósito de verificar em que ponto as diferentes instituições se encontram em termos de actividades de controlo da cólera. “Verificamos que os números de casos têm estado a crescer na cidade de Maputo, embora não de forma exponencial como acontece em outras províncias”, revelou o vice-ministro.
Neste âmbito, o Centro de Tratamento de Doenças Diarreicas de Mavalane registou a entrada de 296 casos de suspeitas de cólera desde o início do ano até à actualidade. Deste universo de pacientes, 22 foram testados positivamente, tendo um destes resultado em morte.
De acordo com o vice-ministro da Saúde, a cidade de Maputo tem registado uma média de 15 a 17 casos diários, e Luís Cabral assim como Ferroviário foram apontados como os bairros com maior ocorrência de casos.
Em relação às formas de contaminação, a que ocorre de pessoa para pessoa e a contaminação fecal-oral continuam sendo as predominantes. De acordo com o representante do Governo para a pasta de Saúde o que se recomenda é que se continue a intensificar acções de tratamento e abastecimento de água, assim como as práticas de saneamento ao nível dos bairros da cidade.
PARA O CONTROLO DA CÓLERA
CMCM precisa de seis milhões de meticais
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo precisa de seis milhões de meticais para controlar a eclosão da cólera e diarreia na cidade de Maputo.
Este dado foi avançado semana finda pela vereadora da Saúde e Acção Social, Nurbai Calú, no encontro realizado pelo Ministério da Saúde que envolveu diferentes instituições públicas para reflectir e responder à eclosão da cólera e outras doenças diarreicas na cidade de Maputo.
Falando no encontro, Nurbai Calú defendeu que o tratamento da água é crucial para a prevenção da epidemia. “Independentemente da quantidade da água que tivermos em casa, cada um de nós deve ter a responsabilidade de tratar a água que consome”, disse a vereadora.
Adiante, Nurbay Calú referiu que um dos trabalhos que a sua vereação está a desenvolver no terreno é a sensibilização das famílias para o tratamento constante do precioso líquido, pois o que se tem verificado nos bairros é que muitas vezes as populações vivem sob grande exposição ao risco de contaminação.
“Vimos muitas famílias que colectam água das torneiras para reservatórios sem tampa”. Outro hábito reprovado foi a introdução de canecas no interior dos recipientes. “Não se deve introduzir a caneca no interior do recipiente porque pode contaminar a água”, explicou a vereadora.
Outro aspecto relatado pela vereadora que também periga a saúde pública é o facto das pessoas apenas tratarem água reservada para beber.
“Se bebo água tratada num copo lavado com água não tratada certamente que o risco de contaminar a água que vou beber é grande. Por isso apelamos que toda a água seja tratada principalmente neste momento em que se verificam restrições no abastecimento”, apelou.
Para o saneamento do meio, o município da cidade de Maputo fortificou as condições de limpeza na cidade, através de jornadas de limpeza.
Relativamente à manutenção das valas de drenagem, o CMCM celebrou no mês de Agosto um contrato com uma empresa que se dedica à limpeza das mesmas.
Nurbay lamentou o facto de as valas de drenagem estarem a ser vandalizadas por populares e serem usadas como depósito de lixo.
“Estamos constantemente a desentupir os colectores. Dentre vários objectos, temos até encontrado panelas e sofás. Estão a deitar tudo o que não precisam para o interior das valas, o que compromete a eliminação de águas”,afirmou.
Outro aspecto não menos importante que está a preocupar o município é a presença de crianças que brincam e tomam banho no interior das valas de drenagem, onde também são depositados dejectos humanos.
Texto de Luísa Jorge