Por artes e berloques, Maputo está a braços com uma gritante falta de água. Parece que não há memória recente de semelhante experiência. Nos dias que correm, o pessoal que vive nas cidades de Maputo e Matola só vê água nas torneiras dia sim, dia não. As vezes nem isso. As autoridades já vieram a terreiro dizer que a fonte de abastecimento de água para as duas cidades está a secar… quer dizer, daqui a mais um bocado, se a mãe – natureza não se compadecer dos maputenses, a coisa vai tresandar a enxofre!
“Tá-se mal”, como sói dizer-se!
Bula-bulaestá triste com a situação. Afinal parte do seu dia é passada na cidade das acácias (?) e, vezes sem conta enfrenta esse dilema. Nem as chuvinhas que têm caído por estes dias servem de consolação. Mas também é preciso lembrar que, nesta nossa cidade, há coisas de arrepiar; há dias, era possível passar vezes sem conta por uma via e ver água a jorrar “às toneladas” e descer rua abaixo perante o olhar impávido e sereno, não só dos potenciais utilizadores da mesma, como também das instituições responsáveis pela canalização e distribuição do famoso líquido incolor, inodoro e insípido!
Mas o que deixa mesmo Bula-bula de queixo caído é o engenho humano para o mal. Joseph Conrad dizia que a crença em uma fonte sobrenatural do mal não é necessária. O homem, por si só, é capaz de toda maldade… E é verdade. Veja-se o que aconteceu no meio da crise de água… um qualquer sujeito, com acesso a um telemóvel, decidiu mandar para um grupo de amigos – sabendo claramente que esses também iriam partilhar a informação(?) – um post dando conta de que alguns empresários desonestos estariam a usar os camiões cisternas normalmente usados para limpeza de fossas, para transportar água potável. Segundo o mesmo post, já havia registo desse tipo de fenómeno nalguns bairros. Não indicava quais… não apresentava provas de nada…
Meio mundo ficou alarmado mas – cá entre nós – seria mesmo possível um tipo usar um tanque que transporta dejectos humanos para distribuir água? Que cheiro teria essa mesma água? E como é que um indivíduo, em sã consciência compraria esse tipo de produto?
Pelo sim, pelo não a polícia começou a fiscalizar os camiões cisternas. Bula bula ficou a saber que afinal há licenças para aquele negócio de distribuição de água. Também há licenças para o outro tipo de negócio. Até hoje, ninguém foi encontrado em acto criminoso.
A pergunta que não quer calar é: porquê espalhar esse tipo de mentira?
Vale o mesmo para aquele que decidiu espalhar que Moreira Chonguiça, um dos nossos mediáticos artistas, estaria preso em Londres por posse ilegal de estupefacientes. Era mentira desbragada. Bolas. Faz-se isso? Agora deu para nos divertirmos com a desgraça alheia? Qual é a intenção?
Como estas, temos muitas outras situações. Aliás, agora circula um outro post dando conta que há gente que tira água em riachos e lagoas para venda. Tudo porque alguém fotografou e partilhou uma fotografia de um indivíduo a encher um tanque de água. A verdade – que a foto não diz e nem o autor do post – é que o aludido é dono de um estaleiro e está a fazer algo rotineiro: buscar a água para fazer blocos!
A verdade é que esse tipo de desinformação faz tanto mal e tira sono a muito boa gente.
Bula-bulaestá aqui a pensar numa fórmula mágica que permita descortinar a origem da fofoca e propor uma penalização para os whatsapp-infractores. Noutras paragens, sabe-se, que existe legislação… é que as redes sociais também são usadas para criar convulsões sociais cujas consequências ultrapassam a mente tacanha de quem incita as massas.
Um apelo citando Faulkner: Não tente só ser melhor que seus contemporâneos ou predecessores, tente ser melhor que você mesmo! De contrário, como diria um velho compincha deBula-bula:essa coisa de estarmos vivos, qualquer dia ainda acaba mal…