Reportagem

Sobe para doze o número de óbitos

Subiu para doze o número de óbitos ocorridos nos distritos de Cuamba e Mecanhelas, no Niassa, em consequência das enxurradas que fustigam as zonas centro e norte de Moçambique.

Igualmente, as chuvas que têm caído com maior intensidade nos últimos dias na província voltaram a cortar o trânsito rodoviário entre os dois distritos, depois de, novamente, a ponte sobre o rio Namutimbua ter sido derrubada pela força da água.

A ponte em questão tinha sido reposta há menos de uma semana depois de uma delegação multissectorial da província do Niassa, chefiada pela secretária permanente provincial do Niassa, ter-se dirigido ao local e ordenado a realização de trabalhos de emergência, que possibilitassem a circulação, embora condicionada, entre Cuamba- Mecanhelas e Cuamba-Guruè.

Apesar de a situação que se vive no Niassa não ser das melhores, as autoridades governamentais e parceiros estão a envidar esforços no sentido de mitigar a situação menos boa que caracteriza o dia-a-dia de milhares de pessoas na província. Com efeito, está a ser feito um trabalho visando trazer alegria às famílias com o envolvimento de empreiteiros, que tudo fazem para tornar as vias de acesso transitáveis o mais rapidamente possível. “Aqui trabalha-se dia e noite”, confidenciou-nos uma fonte da Administração Nacional de Estradas do Niassa.

Recorde-se que, para além da destruição de infra-estruturas sociais e económicas, as enxurradas já começaram a causar em alguns distritos da província doenças hídricas, nomeadamente diarreias simples e outras com sangue. Em consequência, as autoridades da vila municipal de Metangula, distrito do Lago, anunciaram há dias a morte de duas pessoas, entre as que deram entrada no hospital local, vítimas de diarreias.

Aventa-se a possibilidade da eclosão de cólera naquele distrito lacustre, mas o administrador do Lago, Moura Jorge, veio a público desmentir a notícia, defendendo que as amostras recolhidas para o laboratório ainda não clarificaram a natureza de tal enfermidade.

“É prematuro afirmar que as duas pessoas morreram de cólera”, referiu aquele dirigente, para quem os resultados laboratoriais vão determinar, com exactidão, se as diarreias que eclodiram no Lago são ou não causadas pela cólera.

APOIOS CONTINUAM A CHEGAR

Enquanto isso, uma fonte do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades do Niassa, INGC, disse ao nosso jornal que os apoios em bens materiais, alimentares e monetários continuam a chegar ao Niassa para minorar o sofrimento de mais de 10 mil pessoas afectadas pelas enxurradas nos distritos de Cuamba e Mecanhelas.

Reconhecem, entretanto, que mais ajuda é necessária para salvar os que perderam, num ápice, quase tudo o que levaram anos a construir. “As crianças e os idosos são a nossa primeira preocupação, por se tratar de pessoas sem condições de sobreviver, sozinhas”, defendeu aquela fonte que pediu, entretanto, o lançamento de um movimento de sensibilização sobre a importância de se solidarizar com o próximo.

A nossa Reportagem testemunhou em algumas partes afectadas que algumas pessoas que viviam em tendas já começaram a erguer, de novo, as suas próprias casas. Por sua vez, o Governo e parceiros igualmente estão a disponibilizar apoios em material de cobertura, nomeadamente chapas de zinco, tendo em vista fazer com que os afectados possam, nos próximos tempos, andar com os seus próprios meios.

LUTANDO CONTRA A FOME

Para além das vias de acesso, casas e outras infra-estruturas públicas e privadas, as machambas são, também, as que mais sofreram. Centenas de hectares lavrados e semeados encontram-se submersas e culturas arrastadas para os rios. Os próximos tempos serão difíceis para as populações que deverão, em face disso, voltar a fazer tudo de novo para garantir que a comida não falte nos seus lares.

António Cebola é um agricultor respeitado em Iataria, no distrito de Mecanhelas. Em conversa com a nossa Reportagem, garantiu que os próximos tempos serão determinantes para repor o que se perdeu, depois de a sua machamba, de quase quatro hectares, ter sido arrastada pela chuva.

“Tiraram-me as culturas, não tiraram as mãos com as quais vou, novamente, preparar as áreas lavradas e semear”, prometeu Cebola, aconselhando os seus pares a tudo fazerem para não se deixarem derrotar pelas adversidades provocadas pela natureza.

De lembrar que Mecanhelas é considerado um dos distritos mais produtivos do Niassa. É, igualmente, o segundo distrito mais populoso da província, depois de Cuamba. Para além de agricultura, é o maior criador de gado bovino e caprino.

André Jonas

andremuhomua@gmail.com

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